As telinhas prejudicam o desenvolvimento das crianças?

As telinhas prejudicam o desenvolvimento das crianças?

Existe quase que um consenso entre educadores e pediatras sobre o mal que as telinhas, aí incluídos TV, tablets e smartphones, podem fazer às crianças. Tenho opinião diferente: será mesmo que as telinhas prejudicam o desenvolvimento das crianças?

Ainda que concordando que todo o excesso é prejudicial, creio que uma exposição moderada pode ter efeito benéfico no senso de percepção das crianças, no vocabulário, na identificação de cores, números, animais e sons, nos relacionamentos familiares, na escola e em tantos outros conceitos educativos básicos, de maneira divertida e interativa.

Identificar sons de animais, cores e formas pode melhorar as habilidades de percepção visual e auditiva.

Essa é uma questão multidisciplinar que envolve profissionais e estudiosos de diversas áreas. Destaco alguns nomes como Dra. Sonia Livingstonede, professora de Psicologia Social da Mídia na London School of Economics and Political Science, Dr. Michael Rich, pediatra e diretor do Center on Media and Child Health no Boston Children’s Hospital, Dra. Jenny Radesky, pediatra e pesquisadora conhecida por seu trabalho sobre o impacto da tecnologia na saúde e no desenvolvimento infantil, Dr. Chip Donohue, diretor do programa de Educação Infantil e Familiar na Erikson Institute, em Chicago e Dra. Lisa Guernsey diretora de Educação e Tecnologia no New America Foundation, todos renomados acadêmicos e pesquisadores que defendem uma exposição moderada e responsável das crianças às telinhas, mesmo as menores de dois anos.

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Do ponto de vista profissional, observacional e pessoal posso atestar, também como pai e avô, e ao lado de tão ilustre e competente companhia, o rápido desenvolvimento que as crianças podem ter, fazendo uso, moderado e gerenciado pelos pais, de sua exposição às telas, como complemento das brincadeiras e das interações com amigos e família.

Ainda que reproduzindo uma experiência muito pessoal, mas válida do ponto de vista observacional, principalmente considerando as opiniões de renomados pesquisadores como os acima mencionados, me permito ressaltar que tenho hoje uma filha de dois anos e meio cujo desenvolvimento do vocabulário e da capacidade de percepção de fatos, valores, concepções, atitudes e sentimentos, deve-se muito ao tempo que ela passa, por dia, em frente às telinhas.

E esse desenvolvimento de vocabulário é carregado de surpresas aos pais, não somente em relação às novas palavras não ensinadas em casa, mas nas construções gramaticalmente corretas, com observação adequada de plurais e concordâncias.

É claro que temos que cuidar para que haja um mínimo de qualidade nos programas a ela permitidos e oferecidos. Aqueles interativos que incentivam a repetição e a resposta devem ser incentivados, embora não impostos, par evitar a rejeição pela criança. A interatividade motiva e faz da aprendizagem uma atividade divertida.

As críticas muitas vezes se apoiam na ideia de que as crianças expostas às telas são mantidas em uma posição passiva, e não interagem, o que me parece uma avaliação precipitada e equivocadamente generalizada, pois o fato de a criança nem sempre se manifestar em relação a um determinado programa, não significa que não esteja interagindo, exercitando sua capacidade de entendimento e de interpretação e fazendo suas próprias conexões entre estes roteiros e suas experiências. Dessa forma, entendo que estejam desenvolvendo e exercitando suas habilidades linguísticas e interpretativas. Isso é sim, a meu ver, interação e interação ativa.

Quantas vezes somos surpreendidos com novas palavras que nem imaginávamos que tivessem sido incorporadas ao vocabulário delas? E as cores, números, contagem, alfabeto e tantas outras descobertas? E isso se deve a essa interação, ainda que silenciosa, que permite esse aprendizado, às vezes, vindo acompanhados de nem sempre desejáveis hábitos comportamentais, como efeito colateral.

Acho que a telinha, embora não substituindo os pais, a escola e os amigos, é um excelente elemento complementar à boa educação e ao bom desenvolvimento cognitivo das crianças.

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