É comum, nas relações afetivas, as pessoas criarem expectativas exageradas em relação ao parceiro ou à parceira, e até em relação a si mesmas, e quando essas expectativas não são atendidas, surgem frustrações e desapontamentos. É comum esperarmos que a outra parte se comporte da forma como idealizamos e quando isso não acontece surgem os conflitos, até porque a outra parte também deposita expectativas, nem sempre razoáveis, em relação aos nossos comportamentos e às nossas atitudes.
O que precisamos para minimizar esses efeitos em nossas relações é promover frequentemente um ajuste de expectativas e isso significa que precisamos rever as razões pelas quais esperamos certas atitudes da outra parte e fazer avaliações frequentes sobre a possibilidade de que nossas expectativas não estejam alinhadas à personalidade, aos anseios e, também, às expectativas do outro.
Isso pode nos levar a rever pontos de vista, fazer concessões e desenvolver uma maior tolerância e aceitação, sem que isso signifique abrir mão de valores e princípios que consideramos fundamentais, ainda que tenhamos que manter atenção a esses “valores e princípios” que, em certos casos, podem não resistir a uma avaliação mais desarmada e voltada ao diálogo e à compreensão.
Daí a razão de parte do título do post: “ajuste de expectativas”.
Ao percebermos, por conta própria ou por meio de auxílio psicoterapêutico, que nossas atitudes não estão contribuindo para a felicidade do casal, e, mesmo quando achamos que a culpa não é nossa, mas reconhecemos nossas fraquezas, podemos desenvolver um impulso de mudança em algumas das nossas atitudes, principalmente quando queremos manter a relação.
Esses impulsos são benéficos, mas, às vezes, vêm acompanhados de mais expectativas quanto a mudanças de atitudes e comportamentos que esperamos que a parceira ou o parceiro também passe a praticar, e isso ocorre em razão da ansiedade provocada pelo entendimento de que nossas mudanças são boas e já deveriam ter sido percebidas e gerado resultados, e então nossos esforços e nossa percepção de mudança pessoal podem ser abalados pelo aumento dessas expectativas, já que as mudanças da outra parte que, na verdade, são as mudanças que nós esperamos, não estão sob nosso controle.
É preciso, portanto, que o foco das mudanças ou dos ajustes que entendemos serem importantes para a melhora da relação, estejam concentrados nas nossas ações, nossos pensamentos e comportamentos e isso não significa que tenhamos que ficar absolutamente indiferentes ao que esperamos de mudanças na outra parte, mas apenas entender que o ponto de partida da virada que pretendemos está, principalmente, em nós mesmos.
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Quando nos preparamos para responder, ao parceiro ou à parceira, de uma maneira que julgamos mais adequada ao nosso objetivo de melhorar a relação e, por alguma razão, não conseguimos agir como o programado, sentimos grande frustração e às vezes nos revoltamos contra nós mesmos.
Isso leva à vontade crescente de mudar nosso comportamento. No entanto, esse processo não é simples; a mudança não ocorre da noite para o dia. Podemos ter sucesso em algumas tentativas e falhar em outras.
Quando anunciamos e tentamos uma mudança alinhada a ambos os objetivos, produzimos expectativas nos dois lados e frustrar a expectativa do outro reforça o nosso desapontamento e aumenta o nosso desânimo, o que não é a melhor das respostas que devemos dar nesses casos.
A decisão de mudar, comunicada e demonstrada, gera na parte insatisfeita, fortes expectativas, apoiadas na percepção de que há sinceridade de propósito, e quando a pessoa começa a mudar e obtém êxito nas primeiras tentativas, as expectativas de ambos vão sendo reforçadas.
Por outro lado, se em um desentendimento subsequente a coisa desanda e há uma recaída, ocorre uma insatisfação mútua que resulta em frustração e decepção.
O posicionamento diante dessas situações deve ser claro. Se você está convencido de que certas atitudes não trazem recompensas e geram estresse, é essencial continuar no exercício de mudança.
Inicialmente, isso pode parecer um esforço, mas com o tempo tudo se tornará mais fácil e automático. É importante persistir.
Caso perceba que sua resposta não foi a programada, mantenha a calma, evite se frustrar, controle suas reações e foque na próxima oportunidade que terá de corrigir o que você hoje considerou uma falha.
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Na busca de proposições para se estabelecer uma conexão mais saudável, aquele que está se propondo a mudar tende a focar demasiadamente na reação da outra parte, na expectativa de que seu esforço e suas conquistas, ainda que pequenas no início do processo, sejam observados e reconhecidos.
Isso pode levar a pensamentos do tipo: eu estou mudando, mas ele(a) não percebe e continua agindo como antes, o que significa que nada está adiantando.
É fundamental reconhecer quando transferimos a responsabilidade para o outro em vez de assumir nosso papel na dinâmica da relação.
Transfere-se a responsabilidade de criar um ambiente positivo na relação para a outra parte, mas essa tarefa é de ambos.
Embora pareça óbvio, na prática, isso não é fácil para nenhum dos lados.
O que eu quero dizer é que não devemos exacerbar nossas expectativas, nem em relação à nossa capacidade de mudar rapidamente e nem em relação ao que esperamos de resposta e reconhecimento da outra parte.
Nosso compromisso com a mudança tem que ser, prioritariamente, conosco. Os resultados virão naturalmente.
As reações devem ser coerentes. Se uma pessoa se sente ofendida pela atitude da outra e por repetições dessa atitude, é importante que ela também observe se há esforço e melhoria no comportamento da outra.
É necessário, também, discernir se o comportamento que causa mal-estar é natural ou apenas um impulso indesejado que o outro reconhece e tenta evitar.
Não significa que, se identificamos que o comportamento é apenas impulsivo, devamos ser condescendentes com atitudes que consideramos inaceitáveis, o objetivo é apenas nos permitir uma melhor abertura e predisposição para o entendimento. Isso estimula quem está procurando mudar, a agir, progressivamente, de maneira mais alinhada ao propósito mútuo de melhora do relacionamento.
Reconhecendo esse esforço por parte do(a) parceiro(a), percebe-se uma intenção positiva nas reações dele ou dela. Isso deve levar quem se sente ofendido a diminuir suas exigências e seu incômodo emocional.
Uma mudança na percepção entre os parceiros pode gerar um ciclo virtuoso. Quando uma pessoa percebe que o outro lado está reagindo de maneira menos agressiva ou defensiva, se torna menos predisposta a querer contra-atacar, e isso vai reduzindo a frequência dos conflitos e facilitando a compreensão mútua.
Essa prática empática de maior receptividade em relação às fraquezas do parceiro(a), quando buscada por ambos, promove uma sintonia crescente no relacionamento.
Embora os problemas possam não desaparecer completamente, a tendência é que se tornem manejáveis e até irrelevantes ao longo do tempo.
Esse processo fortalece o respeito e a consideração entre os membros do casal e as reações positivas contribuem para a convergência entre objetivos e resultados, o que, invariavelmente, melhora o relacionamento, tornando-o mais agradável e harmonioso.
Lembremos sempre: a palavra-chave para a solução da maioria dos conflitos amorosos é “empatia”.