Você por acaso já se deparou com situações em que seu filho ou filha se envolveu em algum desentendimento com um amiguinho ou amiguinha, e você recebeu uma reclamação da escola, não necessariamente de diretores, professoras ou coordenadoras, mas reclamação de pais de crianças, coleguinhas do seu filho ou da sua filha porque, por alguma razão, eles acharam que a filha, ou o filho, foram injustiçados. Vou tentar conduzir este post no intuito de demonstrar que, salvo em situações muito específicas, como veremos à frente, desentendimentos entre crianças devem ser resolvidos entre crianças.
Acredite: isso tem acontecido com muita frequência; algumas mamães têm se dedicado a cobrar atitudes de pais de coleguinhas e dar demonstrações de que eles educam muito bem suas próprias crianças, mas que os pais dos coleguinhas não têm a mesma preocupação e o mesmo cuidado em educar os seus filhos.
Como é mais comum que as mamães participem bem mais do que os papais dos grupos de WhatsApp, essas conversas tendem a ocorrer mais entre elas. Por isso mencionei “as mamães”, como as que fazem mais esse tipo de reclamação.
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O que acontece é que, às vezes, sim, existem situações em que reclamações são justificáveis e eu acredito que primeiramente devam ser feitas à direção da escola e não diretamente aos pais da criança que supostamente tenha cometido a tal injustiça ou tenha tido atitudes ou comportamentos inadequados.
Sabe-se, é claro, que existem sérios casos de bullying que precisam ser combatidos e reprimidos e os pais devem, realmente, intervir nessas situações e tentar solucionar os problemas daí decorrentes, primeiramente junto com os administradores e professores da escola e, se necessário, com os pais das crianças supostamente agressoras.
Mas existem situações em que, por motivos absolutamente irrelevantes, como discussões ingênuas, ou por uma ou outra palavra mal colocada de algum coleguinha, mães acabam se colocando no lugar dos filhos e se deixando levar por um certo senso de justiça muito peculiar e se ofendendo de uma maneira muito mais séria e muito mais dolorida do que, provavelmente, os filhos tenham se sentido ofendidos.
É, mais ou menos, como se criassem mentalmente fantasias do tipo: o que essa criança fez com a minha filha não é aceitável e ainda que a minha filha não esteja sofrendo com isso eu estou ofendida porque não gostei de vê-la recebendo o tratamento hostil que lhe foi dado pela outra criança.
Há que se ter um cuidado muito grande com isso.
Entretanto, os pais que venham recebendo, com muita frequência, reclamações sobre seus filhos, devem começar a se preocupar um pouquinho e procurar saber se realmente eles estão tendo um comportamento agressivo ou se isso é produto de julgamentos sempre equivocados emitidos pelas reclamantes, pois, na verdade, em casos de reclamações mais frequentes, a gente tem que admitir a possibilidade de que nossos filhos possam não estar sempre nos reportando aquilo que realmente está acontecendo.
Às vezes eles não vêm sendo tão bem-comportados como a gente imagina e, quem sabe, possam estar, ao menos eventualmente, provocando sentimentos de angústia e de aborrecimento nas outras crianças, o que, certamente, merece uma intervenção nossa.
Isso é a primeira reação que eu acho que os pais que recebem reclamações devem ter, caso contrário, percebendo-se que realmente está havendo um certo exagero da outra parte, a reação que eu recomendo, é tentar manter a calma e ter uma conversa franca e serena com a outra parte, ou seja, com a mãe (vá lá: ou o pai) da criança que se sentiu ofendida e injustiçada.
Na maioria das vezes o que ocorre é que os pais compram essa briga e vão assumir a posição dos filhos; os supostamente ofensores e os supostamente ofendidos, e, por isso, eventualmente, essas situações geram uma discussão, uma briga, ou algum desentendimento, ainda que pequeno.
Não são raras as situações em que a intromissão dos pais nas briguinhas das crianças gera inimizade entre os adultos, enquanto os pequenos, verdadeiros envolvidos nos desentendimentos, fazem as pazes no dia seguinte, mantendo suas amizades, muitas vezes, por longo tempo ou para o resto da vida.
Importante destacar que estou aqui a me referir a crianças até a fase da pré-adolescência.
Nessa fase as crianças estão em pleno desenvolvimento cognitivo, emocional e psíquico e, portanto, não estão amadurecidas emocional e psicologicamente para saber, exatamente, como se comportar e reagir em situações desse tipo, a despeito de já deixarem manifestar traços de personalidade, ainda que em formação e sujeitos a mudanças.
Eu aconselho que antes de se fazer uma reclamação dessas, os pais das crianças, supostamente ofendidas, tentem entender o contexto em que as discussões aconteceram e que, prioritariamente, estimulem seus filhos a tentar, sempre que possível, resolver por si próprios suas divergências, orientando-os para que com o passar do tempo, aprendam a discernir e identificar o que é uma agressão inaceitável, contra a qual necessitam de ajuda, e quais são, simplesmente, pequenos eventos decorrentes de desentendimentos corriqueiros, comuns no convívio e nas interações rotineiras que eles terão de ter ao longo das suas vivências escolares, sociais e profissionais, e é desde cedo mesmo que devemos tentar ensinar isso a nossos filhos.
Empatia e bom senso são as palavras-chave para se evitar desgastes emocionais, angústias e ansiedade, absolutamente desnecessários.
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