Pescoço Senil

Pescoço Senil

Em um café da manhã com um grupo de casais, todos na casa dos trinta, exceto eu, é claro, um pouco mais velho, ouvi o relato de uma amiga da Renata, que disse ter se espantado quando se olhou no espelho e constatou que estava ficando velha ao perceber que seu pescoço apresentava traços senis. Ela disse: “estou velha! Olhei-me atentamente no espelho e vi que estou com um pescoço senil.”

Assim que terminou a frase olhei para o pescoço dela para conferir e me deparei com algo cuja textura da superfície da pele apresentava características semelhantes às da bunda de um bebê. Pensei: se ela considera aquele pescoço senil e se os presentes se limitaram a rir e não discordaram, o que dirão do meu?

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Antes que alguém resolvesse passar os olhos nos demais pescoços à mesa e fizesse constatações e considerações pouco elogiosas em relação ao meu, imediatamente o recolhi em minha camisa.

Levantei os ombros, suspendi a gola do meu casaco, quase enfiando a cabeça nele, agindo como uma tartaruga quando se percebe ameaçada por seu predador, e assim fiquei, por alguns segundos, até que o tema fosse, definitivamente, deixado de lado.

Consegui, portanto, manter fora de evidência e afastado de qualquer possibilidade de observação e julgamentos o meu — este sim, o verdadeiro, legítimo e inquestionável — pescoço senil, ao qual sou grato, pois, a despeito de abrigar sutis marquinhas do tempo e dois ateromas não obstrutivos de carótidas, vem cumprindo, com elogiável competência, a nobre função de manter unidos meu corpo e minha mente.

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                                                                                    Julho/2023

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